Saudade é nossa alma dizendo para onde ela quer voltar

Saudade do cheiro do bolinho de chuva que minha mãe fazia.

Saudade de acordar e fazer a oração do amanhecer, na varanda de casa.

Saudade de chegar da escola e pular de roupa na piscina.

Saudade do meu cachorro, que não pode vir com a gente. Ainda lembro da carinha dele, na caçamba da caminhonete, com a patinha pendurada. Acho que ele sabia que não ia mais nos ver.

Saudade das amigas de infância que deixei pra sempre.

Saudade de pegar um livro e ler deitada na grama.

Saudade do mar, do cheiro de praia.

Saudade de tudo que eu perdi. Como seria a minha vida se eu não tivesse me mudado pra essa merda de cidade?

Sempre me senti uma intrusa. Nunca fui bem vinda aqui, nunca quis ser. Me fechei. Só eu sei o quanto doeu e ainda dói. Lembranças, apenas. Mas, já dizia o poeta: saudade a gente tem é dos nossos pedaços que ficam pelo caminho.

Tive que abandonar minha vida, ainda criança. Tiraram de mim tudo que eu mais amava. E tive que aprender a conviver com pessoas diferentes, costumes diferentes, cultura diferente.

Lendo assim parece que saí da Suécia e vim morar numa tribo indígena na Amazônia. Mas quem já foi criança um dia, sabe o quanto as crianças conseguem ser cruéis quando querem. Sofri bullying de tudo que é lado, de todas as formas.

O pior é que até hoje eu não superei. Não me adaptei a esta cidade.

Enquanto escrevo, estou chorando. Meu coração tá doendo tanto. Sabe uma dor que corrói a alma?

Resolvi dar um Google em algumas pessoas que fizeram parte da minha vida. Pessoas que não via desde os 9 anos de idade.

Vi meus coleguinhas de jardim de infância casados, com bebês.  Fiquei triste ao ver que a maioria engordou muito e estão aparentando muito mais velhos (as) do que de fato são. Fiquei feliz ao ver o sorriso da filhinha daquela que era minha melhor amiga.

Fiquei triste por nao ter participado da vida de nenhum deles. Não sei se seriamos amigos até hoje, caso eu não tivesse saído de lá. Só sei que eu teria tido a oportunidade de ter amigos verdadeiros. Amigos de infância.  

Precisava desabafar.

Hoje eu estou tão sensível que chorei quando a Caminha foi escorraçada pelo Tufão.  Acho que é abstinência do remédio, não sei.

Só sei que tudo que eu mais queria agora era um abraço. Um abraço que não questionasse nada.  Que acabasse com toda a dor que eu estou sentindo.