Relacionamentos abusivos

Semana passada li muito sobre autoestima em alguns blogs por aí. Gente que sofreu bullying de tudo que é lado, inclusive dentro da própria casa.

Eu até comentei em alguns blogs sobre algumas coisas que eu passei, mas resolvi escrever por aqui tbm. Quem sabe alguém lê e percebe que tá fazendo alguém sofrer ou percebe que tá sofrendo abusos de pessoas próximas.

Quando eu tinha 9 anos me mudei pra essa merda de cidade, que outrora se chamava Curral Del Rey ( nome mais do que apropriado, afinal isso aqui é um curral mesmo ) e agora responde por Belo Horizonte. Enfim, eu já contei que menstruei nessa idade e que era uma jamantona. Além disso, nessa época comecei a minha transformação de pessoa para chokito.  Espinha era mato por aqui.  Some isso a um cabelo mega jubástico, hiper volumoso. Tão volumoso que todo salão que eu vou até hoje todo cabeleireiro fala: nunca vi alguém com tanto cabelo assim! Vem ver, fulana, cliclana, etc. E aí meu cabelo vira ponto turístico. Progressiva, beijos.

Enfim, tava lendo o blog da Nah e ela contou que a mãe e irmã implicavam com o cabelo dela e que a levaram ainda criança no salão pra alisar. E olhando as fotos, hj ela tem consciência que o cabelo dera ela lindo, cheio de cachos. Então pq as pessoas insistem em impor o que é bonito, o que é socialmente “aceito” às outras? Pq as pessoas insistem em acabar com a autoestima alheia?

Eu sofri bullying em casa também. Talvez meu pai nem percebesse o quanto me fazia sofrer, mas ele insistia em fazer piadas toscas sobre minha aparência. Ele implicava com o meu cabelo de uma forma, que eu me sentia um E.T. Não podia passar na frente dele q ele falava pra minha mãe: tem que dar um jeito no cabelo dessa menina, ela tá parecendo um búfalo. HAHA. Engraçado né? Só que não.

Na verdade, agora até que é,mas na época eu procurava fotos de búfalos pra me comparar e tentava alisar o cabelo com o gel do meu irmão, o que me deixava no máximo um búfalo lambido. Isso pq eu nunca tive o cabelo cacheado, nem liso.  Ele era aquela coisa indefinida e ficava uma franja luluzinha, partida no meio, com um cabeção gigante e ia afinando até dar uma voltinha. HAUAHA. Era um búfalo mesmo, tô olhando uma foto aqui. Mas, poxa..precisava falar isso pra uma criança, toda hora?? KRLHO.

Além disso, ele adorava pegar um abacaxi e me mostrar. Daí falava: olha, comprei um parente seu no sacolão. E ria. E eu me fazia de forte (sempre fui assim) e fingia q não ligava. Mas ia pro quarto e chorava. Eu não me olhava no espelho por causa das espinhas. Mamãe tentava de tudo: sabonete, creme secativo, shampoo, nada resolvia.

Eu ia pra escola nova e sofria bullying todo dia. Ou por causa do meu sotaque, ou por causa da chokitisse, 

ou por causa do cabelo, ou por causa da bunda q era enorme.

Como eu sou paulistana, puxava o R, então tinha que agüentar as crianças me remedando.  Porrrta, porrrteira, porrrtão. Toda vez que eu passava tinha um grupinho q falava isso. Cambada de retardados, mas quando a gente é criança, sofre.

Além disso,na educação física eu ouvia: não quero ela no meu grupo, ela vai furar a bola ( por causa das espinhas ).

Sofri com isso até uma médica me receitar o roacutan. Foi um milagre: todas as espinhas/cravos sumiram e eu fiquei com a pele linda. Ironia é que nessa época meu colegas q me criticavam começaram a sofrer com espinhas. Eu não pratiquei bullying contra nenhum deles pq tinha noção do quanto isso fazia mal. Mas aprendi a me defender. A duras penas, mas aprendi.

Nunca mais permiti que alguém me fizesse sofrer sem dar o troco. Não que isso acabasse com o sofrimento, mas diminuía bastante.

E aí comecei a ler uns relatos e vi que o que eu sofri não é NADA se comparado ao que muitas pessoas sofreram e ainda sofrem. Cara, eu li num blog a menina contando que o namorado ia transar com ela e no meio do fuk fuk falava: nossa, sua bunda tá cheia de celulite! Outros falam dos peitos da garota, do cabelo, etc. Tbm li uma menina contando que o namorado insistia pra ela dar um jeito na “orelha de abano” dela.

Gente, isso existe?? Pior que a gente sabe que existe. Vou falar, leio esse tipo de coisa e me dá vontade de chorar. Na verdade, dá vontade de dar uns belos tapas na fuça de quem fala tanta merda e só depois ir pra casa e chorar. Chorar pelo mundo, por quão cruel são as pessoas, por nos permitirmos escutar certas coisas e aceitar como verdade absoluta.

E aí eu vejo, todos os dias, pessoas sofrendo com relacionamentos abusivos. Relacionamentos onde o respeito deixou de existir faz tempo. O cara esculacha a mulher na frente de quem quer que seja e ela permite isso. Quando eu vejo uma coisa dessas eu não me calo e sou taxada de louca, grossa e intrometida. Minha mãe vive me falando: em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Pois se for na minha frente eu meto até a concha se preciso! 

Minha prima é casada com um cara super tosco. Ela parou de trabalhar pra cuidar dos 3 filhos, um deles inclusive é bem doente e a decisão foi em comum acordo com o marido. Aí ele vive a humilhando na frente da família toda. Exemplo: na última festa ele tava falando alguma merda e minha prima foi discordar, daí ele disse: fica na sua, você não pode falar de trabalho, pq só fica em casa. Aí ela disse: mas eu já trabalhei..e ele cortou a fala dela e disse: não me interrompa quando eu estiver falando! Ah, meu sangue ferveu e eu disse: se você tivesse um emprego que te remunerasse bem poderia pagar uma babá e não precisaria que sua mulher largasse o trabalho pra cuidar dos filhos que são de vocês dois.

Silêncio. Minha mãe quase morreu de vergonha, começou a oferecer café pra todo mundo e ele só não me xingou pq tava na minha casa. Mas em outra festa me chamou de advogada de porta de cadeia e eu armei o barraco do século ( fica pra outro post ).

Enfim, depois disso tudo, minha prima ficou super estranha comigo, não olha nos meus olhos, não conversa mais. Sei lá, acho que quem sofre assédio moral e permite, vai perdendo a identidade, o amor próprio. A auto estima vai de 0 a -100.

E o pior é que essa falta de respeito começa nos pequenos atos, nas “brincadeiras” . Comentei no blog da Nat que o meu namorado tem mania de me ver toda arrumada e arrumar um defeito pra criticar, seja uma espinha, um cabelo arrepiado, qualquer coisa. Aí ele me critica, tipo: nossa, tem uma cara na sua espinha. E eu vou direto no ponto fraco dele e falo coisas do tipo: sua barriga ta crescendo hein? Ou então: seu cabelo tá caindo mais? Tá ficando mais careca, cuidado! E não falo brincando, falo séria e no momento oportuno. Pra pessoa ver como é bom!!!

Já tive algumas conversas com meu namorado sobre esse tipo de atitude dele, sobre como isso vai minando um relacionamento. Ele melhorou muito.

Hoje eu vejo que a gente já tem que sofrer tanto pelo que não podemos escolher: família, por exemplo. E vamos sofrer também pelo q temos escolha??

Namorado não é parente. É uma ESCOLHA. Tem que ser uma coisa saudável, tem que fazer bem. Olha, minha prima engordou 60 kg durante o namoro dela e chegou a pesar quase 140 kg. Ela sempre foi gordinha, mas começou a engordar muito e chegou a se submeter a uma cirurgia de redução de estômago ano passado (hj ela está ótima). O namorado dela ficou ao lado dela o tempo todo. Ele ajudava ela a calçar sapatos, ficava o tempo todo falando que ela é linda, elogiava, fazia com que ela se sentisse a melhor pessoa do mundo. E olha, ela é um saco. Uma grossa. Mas tô contando isso pra mostrar que tem gente BOA no mundo, gente com caráter, que gosta da pessoa pelo que ela é e não pela casca.

Isso serve pra gente parar e pensar: tô vivendo um relacionamento saudável? A pessoa me ama pelo que eu sou ou na primeira oportunidade vai me largar por uma mais peituda/bunduda?

Enquanto a gente perde tempo num relacionamento abusivo, a vida vai passando e vamos perdendo a oportunidade de conhecer pessoas bacanas, que realmente nos fariam feliz.

Pra pensar.